Vacina contra câncer da Rússia é apresentada como inovação, mas especialistas alertam sobre a falta de estudos clínicos transparentes.
A Rússia surpreendeu ao afirmar que desenvolveu uma vacina contra o câncer colorretal considerada “pronta para uso”. Veronika Skvortsova, chefe da Agência Federal de Medicina e Biologia (FMBA) da Rússia, fez o anúncio durante um fórum em Vladivostok.
A criação do imunizante aconteceu com a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm), a mesma usada nas vacinas contra a Covid-19. Assim, em testes pré-clínicos, teria reduzido o tamanho de tumores e aumentado a sobrevida dos animais analisados.
A notícia, no entanto, é vista com desconfiança, já que nenhum resultado foi publicado em revistas científicas, requisito básico para validação internacional.
Como funcionaria a vacina contra o câncer da Rússia?
A proposta difere das vacinas convencionais. Afinal, trata-se de uma vacina terapêutica, que não previne a doença, mas estimula o sistema imunológico a identificar proteínas do tumor e combatê-las.
Inicialmente, o foco é o câncer de intestino, mas o país afirma que também existem pesquisas em andamento para glioblastoma, tipo agressivo de câncer cerebral, e melanoma, o câncer de pele mais letal.
Entenda a polêmica sobre o anúncio
Especialistas lembram que novos medicamentos precisam seguir um processo rígido de avaliação, passando por fases clínicas em humanos (1, 2 e 3), que comprovam segurança e eficácia.
Porém, até agora não está claro se a Rússia busca apenas autorização para iniciar esses testes ou se pretende liberar a aplicação direta em pacientes.
Outro ponto de preocupação é a falta de transparência científica. Diferente de outros países, que registram estudos clínicos em plataformas públicas, como a ClinicalTrials, a Rússia não divulgou protocolos detalhados nem dados revisados por pares.
Pesquisas globais em vacinas terapêuticas
Enquanto isso, outros laboratórios já avançam nesse campo. A Moderna, em parceria com a MSD, está em fase final de testes de uma vacina contra o melanoma, com resultados publicados em revistas de referência.
Na fase 2, os estudos mostraram redução de até 62% no risco de morte ou metástase.
Além disso, há pesquisas promissoras para câncer de pulmão, bexiga e mama. No Brasil, a Fiocruz retomou um projeto inicial para desenvolver um imunizante contra o câncer de mama com tecnologia de RNAm.
Vacina contra câncer: promessa ou realidade?
Mas além da vacina russa, especialistas acreditam que as primeiras vacinas contra o câncer possam ser aprovadas até 2030. No caso da Rússia, porém, a falta de dados públicos impede qualquer conclusão.
Assim, embora o anúncio tenha gerado repercussão mundial, cientistas reforçam que apenas estudos transparentes e revisados poderão confirmar se a vacina russa realmente marca um avanço no combate ao câncer.
Saiba mais em: O Globo Saúde.





